Crédito, Rodney William Eugênio/Arquivo pessoal
Com mais de meio milhão de seguidores no Instagram — e presença maciça também em cupom opcional estrela bet 🗝 outras redes sociais — o empresário Jonathan Pires se intitula “o macumbeiro mais famoso do Brasil”.
Esta influência ajudou a fazer 🗝 da 1ª Marcha para Exu, evento promovido por ele e realizado em cupom opcional estrela bet 13 de agosto do ano passado na 🗝 Avenida Paulista, em cupom opcional estrela bet São Paulo, um sucesso de público — pelas contas do organizador, 100 mil pessoas participaram.
Exu é 🗝 uma figura controversa no imaginário popular brasileiro. A visão negativa que recai sobre ele é atribuída ao preconceito racial, uma 🗝 vez que, nas religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, Exu é uma figura importante.
Mudar essa má 🗝 fama foi o que motivou Pires, que é sacerdote de umbanda e, entre suas empresas, tem uma loja de artigos 🗝 religiosos na zona norte de São Paulo.
“As pessoas falam que Exu só faz maldade, só destrói relacionamento, cada barbaridade que 🗝 a gente ouve falar em cupom opcional estrela bet nome de Exu que eu quis mostrar para o mundo que Exu não é 🗝 isso”, diz ele à cupom opcional estrela bet News Brasil.
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“Exu é amor, é respeito, é igualdade, e ele luta por 🗝 todos nós.”
Pires quer continuar levando Exu para a Paulista. Garante que o evento deste ano seguirá em cupom opcional estrela bet agosto — 🗝 em cupom opcional estrela bet data ainda não oficializada. “Também quero fazer no Rio e na Bahia”, diz ele.
Crédito, Arquivo Pessoal
Jonathan Pires durante 🗝 marcha realizada na Paulista em cupom opcional estrela bet 2024
Entidade para a umbanda, orixá para o candomblé, Exu está presente na cultura brasileira, 🗝 principalmente nos redutos culturais ligados originalmente à população afrodescendente e no Carnaval.
No pré-carnaval de Salvador, em cupom opcional estrela bet fevereiro, a cantora 🗝 Anitta apresentou-se trajando uma fantasia em cupom opcional estrela bet homenagem a Exu.
Em 2024, a Acadêmicos do Grande Rio sagrou-se campeã do carnaval 🗝 carioca com um samba-enredo em cupom opcional estrela bet homenagem ao orixá.
Para o sociólogo, antropólogo e babalorixá Rodney William Eugênio, Exu é “o 🗝 dono do carnaval”.
“Exu é o mais humano entre todos os orixás. Isso denotacupom opcional estrela betproximidade com as pessoas, mas também 🗝 seu senso de generosidade e compreensão”, afirma Eugênio à cupom opcional estrela bet News Brasil.
“É o orixá da multiplicação e da multiplicidade. É 🗝 divertido, gosta da festa e da farra, é dono do corpo que samba. Exu é o dono da festa do 🗝 povo.”
Crédito, Rodney William Eugênio/Arquivo pessoal
Cultuado na África, orixá chegou ao Brasil por meio dos escravizados com a religiosidade do candomblé
Podcast 🗝 traz áudios com reportagens selecionadas.
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Fim do Podcast
Cultuado na África pelo povo iorubá, a figura de Exu chegou ao Brasil por 🗝 meio dos escravizados com a religiosidade do candomblé.
Acabou estigmatizado pelo catolicismo — que cravou no orixá a pecha de figura 🗝 demoníaca. Mas também conseguiu se sincretizar.
“Foi construído muitas vezes sendo aproximado da imagem de Santo Antônio, porque Santo Antônio é 🗝 um santo associado à questão do casamento e também por ser ele um santo tão popular entre os [colonizadores] portugueses”, 🗝 diz o historiador Guilherme Watanabe, pai de santo do Terreiro de Umbanda Urubatão da Guia, em cupom opcional estrela bet São Paulo, e 🗝 pesquisador mestrando na Universidade de São Paulo (USP).
Cabe explicar como cada religião de matriz africana trata Exu.
“Exu, ou o arquétipo 🗝 de Exu em cupom opcional estrela bet divindades correspondentes, está presente em cupom opcional estrela bet toda a África negra. Entre iorubás e fon, que difundiram 🗝 o culto a Exu no Brasil e na diáspora, o orixá é considerado a ‘espinha dorsal’ dessas civilizações”, pontua Eugênio.
Dentre 🗝 as religiões africanas que chegaram ao Brasil, a mais conhecida é o candomblé.
A umbanda é uma criação brasileira, que acabou 🗝 herdando muitos elementos do candomblé — mas também incorporou preceitos do espiritismo kardecista, do catolicismo e de outras crenças.
Há cerca 🗝 de 589 mil praticantes da umbanda e do candomblé no Brasil segundo os dados do Censo de 2010 — ainda 🗝 não foram divulgados os números do recorte por religião do último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 🗝 de 2024.
Outras 14 mil pessoas declararam seguir outras correntes religiosas afrobrasileiras.
Exu está presente tanto na umbanda quanto no candomblé, mas 🗝 com uma sutil diferença.
Enquanto, no candomblé, ele é orixá, ou seja, uma divindade, na umbanda, Exu é uma entidade, como 🗝 se fosse um espírito.
Uma diferença básica entre umbanda e candomblé, explica Eugênio, é que, na umbanda, também por influência do 🗝 kardecismo, o culto às entidades é um componente principal, enquanto, no candomblé, são as divindades, ou seja, os orixás, que 🗝 são cultuadas diretamente.
“Portanto, os exus da umbanda são entidades, encantados para alguns e espíritos para outros, que se manifestam nos 🗝 médiuns como ‘representantes’ do orixá”, afirma o pesquisador.
Como muitos adeptos do candomblé vieram da umbanda, essas entidades também se manifestam 🗝 nos candomblés, diz Eugênio.
“Como a pureza não é uma preocupação nas tradições afrobrasileiras, os exus catiços, como são chamadas essas 🗝 entidades, assim como os caboclos, que representam os ancestrais indígenas e mestiços, convivem tranquilamente em cupom opcional estrela bet terreiros de candomblé de 🗝 São Paulo, Rio de Janeiro e até da Bahia.”
Para especialista, Exu é considerado o "dono do Carnaval"
Eugênio diz que Exu 🗝 é o mais importante entre todos os orixás
“Mas não de um ponto de vista hierárquico e sim como propulsor do 🗝 axé, ou seja, do poder de realizar. Exu é movimento, é o princípio dinâmico da vida”, diz Eugênio.
“Mais do que 🗝 um mensageiro entre seres humanos e divindades, Exu mantém uma relação intrínseca com as questões práticas da vida. Exu é 🗝 o caminho. É o orixá que abre todos os caminhos, o dono das encruzilhadas, senhor das possibilidades.”
Para evitar percalços e 🗝 dificuldades e para que tudo dê certo, diz Eugênio, evoca-se Exu.
“Além disso, Exu é o senhor das trocas e o 🗝 fiscalizador da ordem da universo e do bom caráter. Quem tem felicidade e dinheiro separa uma parte para Exu”, diz 🗝 o pesquisador.
“É também o dono do mercado, isto é, coordena as transações financeiras, a economia, o consumo, mas não com 🗝 uma lógica de acúmulo. Exu faz o dinheiro circular para gerar riqueza.”
O historiador e pai de santo Guilherme Watanabe é 🗝 também uma figura ligada à fertilidade.
“Exu é orixá associado ao sexo, à sexualidade, mas também à ordem e à desordem 🗝 do mundo, é o orixá que traz a ordem a partir do caos”, diz Watanabe.
“É um orixá que a gente 🗝 cultua para conseguir organizar nossa vida e extrair o melhor dela. Está muito associado à contradição, porque ele traz outros 🗝 pontos de vista, outras verdades para dentro da estrutura de pensamento.”
No candomblé, tudo começa com Exu. Isto porque ele é 🗝 considerado o orixá da comunicação, aquele que promove a conexão das pessoas com as divindades.
“Cultuamos Exu antes dos festejos de 🗝 Iemanjá [dia 2 de fevereiro] para que tudo corra bem, para que não haja acidentes ou incidentes, para que as 🗝 oferendas cheguem a seu destino”, exemplifica Eugênio.
Sua proeminência se destaca não só pelo fato de ele estar presente nos rituais 🗝 ligados aos outros orixás — como no caso citado da Iemanjá — mas também por ser reservada a Exu a 🗝 segunda-feira, o primeiro dia útil da semana.
“Exu é o número um. Está associado ao início do cotidiano, da rotina. É 🗝 quem primeiro organiza, faz o planejamento. Por isso, na segunda-feira muitas pessoas costumam fazer saudações a Exu e cultuá-lo”, diz 🗝 Watanabe.
Mas, com estes atributos, por que Exu passou a ser associado à figura do diabo?
Eugênio diz que predicados negativos atribuídos 🗝 ao orixá são resultado de uma série de deturpações promovidas por religiosos cristãos europeus em cupom opcional estrela bet uma tentativa de subjugar 🗝 a espiritualidade dos africanos.
“A demonização de Exu é uma síntese da demonização da cultura negra e do próprio negro enquanto 🗝 pessoa”, diz o pesquisador.
“Demonizar Exu foi como desprover o negro decupom opcional estrela betmaior potencialidade, como quebrar a espinha dorsal de 🗝 uma civilização”, argumenta ele.
Watanabe acrescenta que, historicamente, os missionários europeus buscavam compreender as características das divindades dos povos colonizados com 🗝 o objetivo de reinterpretá-las do modo que fosse mais fácil impôr a fé cristã.
O sincretismo foi um resultado de um 🗝 processo de aculturação durante o processo de colonização, aponta Eugênio.
“A associação de Exu ao diabo, que é uma figura do 🗝 cristianismo, já veio com os missionários que participaram da colonização na África”, diz o pesquisador.
“A demonização do ‘outro’ é parte 🗝 fundamental desses processos de opressão. Na diáspora, a demonização foi aprofundada, mas há registros interessantes como o sincretismo com Santo 🗝 Antônio no Brasil e com o Menino Jesus em cupom opcional estrela bet Cuba.”
Santo Antônio porque haveria um paralelo entre o santo casamenteiro 🗝 e orixá da fertilidade. Menino Jesus porque Exu é alegre, brincalhão e infantil.
O fato de Exu ser ligado à fertilidade 🗝 e ser muitas vezes representado mostrando o pênis foi um alvo moral do catolicismo, diz Watanabe.
“É um orixá que bate 🗝 de frente diretamente com os valores de mundo cristãos, então acaba associado à imagem daquilo que é contrário aos cristãos, 🗝 ou seja, a própria figura do diabo”, explica o historiador.
“Tem a ver com essa característica de Exu, ligado à festa, 🗝 felicidade, a multiplicação, a fertilidade. De certa forma, são valores contrários à virgindade, à pureza, à divindade [tais como vistas 🗝 pelo catolicismo].”
O pesquisador ressalta que isso não ocorreu apenas com os católicos, mas também com os cristãos protestantes — e, 🗝 mais recentemente, no Brasil após os anos 1980, principalmente com a popularização das igrejas evangélicas neopentecostais.
“Na Nigéria, também houve [esse 🗝 tipo de reinterpretação], principalmente com os muçulmanos, que da mesma forma passaram a associar Exu ao que eles traduzem como 🗝 ‘aquilo que é mal’”, comenta ele.
“Aqui no Brasil, a partir dos anos 1980 e 1990, o crescimento das neopentecostais promoveu 🗝 uma espécie de guerra santa associando diretamente Exu ao demônio. No discurso, é preciso combater o mal e o mal 🗝 estaria associado diretamente à imagem de Exu.”
Watanabe também enxerga na visão negativa sobre Exu uma questão racial.
“Muitas vezes, a associação 🗝 direta de Exu com o demônio tem a ver com a estruturação do racismo no Brasil, que vai ligar tudo 🗝 aquilo diretamente relacionado ao continente africano ao ruim, ao pior”, pontua.
“O racismo hierarquizou essas culturas, as pessoas, realçando tudo o 🗝 que era do branco, como Jesus Cristo e a Virgem Maria sendo símbolos da salvação, e relegando tudo o que 🗝 era do negro, daí os orixás seriam algo negativo.”
A estigmatização de Exu implica em cupom opcional estrela bet uma ferida aberta para os 🗝 praticantes das religiões de matriz africana, dizem os especialistas, porque o orixá é muito central nessas espiritualidades.
Mas, embora o processo 🗝 de colonização tenha deixado uma herança distorcida de Exu, Eugênio acredita que seu verdadeiro significado vem sendo recuperado, em cupom opcional estrela bet 🗝 iniciativas como as homenagens no Carnaval e a marcha que Jonathan Pires realiza na Paulista.
“Isso demonstra que estamos resgatando também 🗝 a dignidade do povo negro.”
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